Após o terremoto de magnitude 6.0 que atingiu áreas montanhosas do Afeganistão, mulheres afegãs se encontram em situação de vulnerabilidade extrema. As convenções do regime talibã, que proíbem homens de tocar em mulheres fora de suas famílias, têm dificultado os esforços de resgate e assistência.
Em Andarluckak, província de Kunar, equipes de emergência chegaram 36 horas após o tremor, que resultou em milhares de mortos e feridos. Bibi Aysha, 19 anos, relatou que, por não haver socorristas do sexo feminino, mulheres e adolescentes foram deixadas de lado, enquanto homens e crianças feridas recebiam ajuda. “Juntaram-nos num canto e esqueceram-se de nós”, declarou.
Tahzeebullah Muhazeb, um voluntário que atuou em Mazar Dara, também em Kunar, confirmou que a equipe médica, composta exclusivamente por homens, hesitou em remover mulheres dos escombros, deixando-as à espera de auxílio de outras aldeias. “Parecia que as mulheres eram invisíveis. Os homens e as crianças foram tratados primeiro, mas as mulheres ficaram sentadas à parte, à espera de cuidados”, afirmou.
O voluntário relatou ainda que, na ausência de familiares do sexo masculino, socorristas arrastavam mulheres mortas pelas roupas, evitando o contato direto com a pele. Um membro das equipes de emergência, sob anonimato, declarou: “Não podemos falar com as mulheres, nem tentar contactá-las, porque é proibido. Mesmo tocar numa mulher morta terá consequências”.
Médicos do hospital provincial de Jalalabad admitiram que profissionais de saúde do sexo masculino se recusaram a tratar vítimas do sexo feminino nas primeiras horas após o sismo. Um trabalhador comunitário de saúde revelou que diversas gestantes morreram por falta de assistência, estimando que o número total de mortes possa chegar às centenas.
A representante especial da ONU Mulheres no Afeganistão, Susan Ferguson, enfatizou a necessidade de mulheres afegãs humanitárias integrarem as equipes de emergência, apelando para que socorristas locais e internacionais priorizem mulheres e meninas na resposta, desde assistência urgente a abrigo seguro. Ela alertou que, sem essa priorização, mulheres e meninas correm o risco de perder assistência vital e informações que podem salvar vidas.