Em um cenário de aproximação entre Argentina e Estados Unidos, o país sul-americano recebeu uma promessa de apoio irrestrito de Washington, com “todas as opções na mesa”. Uma delas já se concretiza em uma linha de swap cambial de US$ 20 bilhões (R$ 106,6 bilhões) entre os bancos centrais, anunciada no mês anterior.
Embora o montante possa trazer alívio momentâneo, analistas ponderam que o sucesso da medida depende de fatores externos a esse aporte. Carlos Honorato, professor da FIA Business School, adverte: “Basta um revés eleitoral, protestos contra a austeridade ou a percepção de ingerência externa para que a confiança se fragilize”.
O acordo, a ser consolidado em outubro, com a reunião entre Donald Trump e Javier Milei, conta com o aval de Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA. O anúncio do apoio já impactou positivamente o mercado, impulsionando a recuperação do peso, a alta de ações argentinas negociadas nos EUA e a valorização de títulos internacionais em dólar.
Este aporte de US$ 20 bilhões é o segundo em seis meses, seguindo a aprovação de um pacote pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril. Os Estados Unidos, como maior acionista e membro fundador do FMI, exercem influência significativa nas decisões do fundo.
Especialistas ressaltam que o impacto do apoio financeiro pode ser passageiro caso não seja acompanhado por reformas estruturais e estabilidade governamental. A instabilidade econômica argentina é notória, com o peso registrando a maior desvalorização frente ao dólar entre as principais moedas globais em 2025, acumulando queda de 27,4% até setembro, conforme a consultoria Elos Ayta. A alta inflação, a desconfiança de investidores, a dívida externa e a dependência de commodities contribuem para esse cenário. A inflação acumulada até agosto atingiu 19,5%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec).
Patrícia Krause, economista-chefe da Coface, aponta que, apesar do otimismo inicial, o risco país voltou a subir em outubro, após uma queda em setembro. O novo auxílio é visto como um paliativo, permitindo uma desvalorização controlada do peso e evitando rupturas cambiais bruscas, com um impacto inicial principalmente simbólico.
O aporte só se tornará um divisor de águas se estiver atrelado a reformas consistentes e ao programa do FMI, reforça Carlos Honorato. A percepção de risco pode melhorar no curto prazo, com a retração dos spreads soberanos, influxos de capital especulativo e interesse em investimentos diretos. No entanto, essa melhora é volátil e depende da implementação das políticas de Milei e do cenário político em Washington.
Eleições importantes no final de outubro, nas quais será renovada parte do Congresso, serão um teste crucial para o governo de Milei. Um resultado favorável aumentaria a governabilidade e a confiança dos mercados. Carlos Honorato alerta que a perda de sustentação eleitoral ou congressual pode anular grande parte do efeito positivo do aporte.
A história recente da Argentina mostra que a turbulência política pode rapidamente dissipar os efeitos de auxílios financeiros. Em 2018, o país firmou um acordo com o FMI para um empréstimo de US$ 57 bilhões, o maior da história da instituição. Em 2022, o FMI emprestou mais US$ 44 bilhões para reestruturar a dívida anterior. Apesar desses esforços, a política argentina frequentemente dificulta a consolidação de melhorias econômicas.
Fonte: forbes.com.br